
Dezesseis meses se passaram desde o dia em que a onda de lama da barragem B1, em Brumadinho, varreu a área administrativa da mina da Vale e o distrito de Córrego do Feijão. A homenagem às 270 vítimas, que mais uma vez será transmitida pela internet, vai contar com uma participação diferente nesta segunda-feira (25): um garoto, de apenas 11 anos, que compôs uma música em homenagem ao tio/padrinho, morto na tragédia.
Assim que recebeu a notícia da morte de Edmar da Conceição, Guilherme Antônio, que tinha na época, 10 anos, precisou de tratamento psicológico e psiquiátrico, contou o pai, Lucélio Cândido Geraldo, conhecido como Celinho. Ele era cunhado de Lucélio e tão próximo da família que era padrinho também do irmão mais velho de Guilherme.
Edmar era funcionário da Vale havia mais de 20 anos. Ele deixou a mulher e uma filha, que completou um ano de idade apenas um mês após a tragédia. “Ele já tinha deixado tudo pronto para a festa de um ano dela. Tava tudo pago. A menina era o sonho da vida dele”, contou Celinho.
Muito abalado, Guilherme, que canta, toca e compõe desde os seis anos de idade, ficou cinco meses sem conseguir pensar em música. “A psiquiatra explicou que a emoção da perda foi forte demais. Sentiu muito, mas muito mesmo. (…) O padrinho fazia de tudo para que Guilherme fosse reconhecido”.
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Aos 11 anos, Guilherme compõe, canta e toca violão, viola e sanfona — Foto: Nevada Vídeos/Divulgação
Com o tratamento, o garoto conseguiu voltar a compor, tocar e cantar. Hoje, domina viola, violão e sanfona. Aprendeu tudo praticamente sozinho.
“Quando tinha 6 anos, tinha pedido ao Papai Noel violão de presente. Meu pai me levou pra aula, mas o professor disse que não poderia fazer, porque não sabia ler e escrever. Chorei, mas quando cheguei em casa, entrei na internet, vi videoaulas e saí tocando duas músicas. Depois, fui aprendendo os outros instrumentos. Meu avô tocava viola”, contou o garoto.
Apesar de ter voltado a tocar, a compor e a cantar, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico para lidar com a perda do tio/padrinho continua. A música “Saudades” foi a forma que ele diz ter encontrado para extravasar a dor que ainda sente.
“Eu nunca tinha costume de dormir à tarde depois do almoço. Um dia, eu dormi, quer dizer, tirei um cochilinho, acordei com a música na cabeça. E em cinco minutos já tinha feito ela”, disse.
“A hora em que ele mostrou a música, eu chorei. Mexe com todo mundo, né?”, falou o pai.
Veja o clipe da música ‘Saudades’

Garoto de onze anos faz homenagem às vítimas da tragédia da Vale, em Brumadinho
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