Coronavírus: a estratégia de Portugal para não repetir os números trágicos da vizinha Espanha

Aos poucos os portugueses conseguem mirar o que parece ser um horizonte, em meio à pandemia provocada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2).

 

A cada dia que passa, fica mais claro o resultado positivo das medidas adotadas pelo país na contenção da transmissão do novo coronavírus.

 

A esperança do governo é que a partir de maio seja possível dar os primeiros passos em direção à reabertura da economia e saída do isolamento social.

Nesta quinta-feira (16) a Assembleia da República aprovou, pela segunda vez, a renovação do estado de emergência. Após a discussão, o primeiro-ministro, António Costa, disse que é o momento de olhar para o futuro e que os próximos 15 dias serão decisivos para aprender a conviver com o vírus de forma segura.

“De forma a que maio seja o mês em que de um modo gradual, progressivo, seguro, possamos retomar, não a normalidade – que só poderemos retomar quando houver vacina -, mas a capacidade de viver em condições de maior normalidade, com a garantia de que a pandemia se mantém controlada”, afirmou.

Apesar do otimismo, cautela segue como a palavra de ordem em Portugal. As autoridades de saúde e especialistas pedem à população para não relaxar nas recomendações sanitárias e de convívio social. Até porque, foi o que possibilitou ao país evitar o pior até agora.

A exemplo do que ocorreu em várias nações da Europa, a covid-19 tinha tudo para provocar o caos no Serviço Nacional de Saúde de Portugal. Mas com 19.022 casos confirmados e 657 mortes, de acordo com o último balanço oficial, o país não chegou nem perto da tragédia vivida pela vizinha Espanha que acumula 188.068 casos e 19.478 óbitos.

Mesmo considerando a diferença populacional entre as duas nações (Portugal tem 10,28 milhões de habitantes e Espanha tem 46,94 milhões), a proporção de espanhóis infectados é mais que o dobro do número de doentes portugueses.

“Aquele aumento muito rápido do número de casos e que levaria à ruptura da resposta de saúde, de fato não está a acontecer e tem permitido que as unidades de saúde estão a conseguir resolver as situações com alguma capacidade de resposta e de alguma forma todo o sistema tem funcionado”, afirma o epidemiologista Ricardo Mexia, que é presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) de Portugal.

Pico já passou

E mais do que o êxito em evitar índices altos de transmissão e letalidade, a nação agora vive uma fase de decréscimo da curva epidemiológica. Se em meados de março, o aumento diário no número de casos passava facilmente dos 20%, desde o início de abril que não chegou a 11%. Entre quinta (16) e esta sexta-feira (17), por exemplo, o aumento foi de apenas 1%.

Para a matemática especialista em epidemiologia Gabriela Gomes, tudo indica que Portugal já ultrapassou o pico de transmissão da doença.

“[O pico foi] entre o fim de março e início de abril, quando esta curva atinge seu máximo e depois tem vindo a decrescer de uma maneira geral”, afirma Gabriela, que é pesquisadora da Escola Superior de Medicina Tropical de Liverpool.

A cientista vem estudando a evolução da doença em diversos países e traçando modelos gráficos que traduzem o comportamento da pandemia de acordo com as medidas adotadas.

Gráfico criado por Gabriela Gomes
Gráfico criado por Gabriela Gomes

Sobre os dados diários que são divulgados ela dispõe de três curvas (veja acima). A preta representa uma situação em que nada seria feito, a verde com 40% de restrição entre a população e a laranja com 75%.

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