Em Manaus, a média de mortes por dia quadruplicou desde o início da pandemia

Manaus é um exemplo evidente de que os números oficiais da pandemia estão muito abaixo da realidade, porque a média de mortes por dia quadruplicou, mas a maior parte dos óbitos não é registrada como sendo por Covid-19.

O vigia Carlos dos Santos Filho quase não conseguiu acompanhar o enterro do pai, que tinha 53 anos. A prefeitura de Manaus limitou o número de pessoas para acompanhar sepultamentos coletivos no cemitério do Tarumã: até cinco por família. A medida é para evitar aglomerações.

“Hoje nós estamos sepultando nosso pai, seu Carlos. Morreu com síndrome respiratória aguda, tinha 53 anos”, contou Carlos Filho.

Depois do enterro, o teste confirmou que o pai do Carlos morreu de Covid-19, mas, como a certidão de óbito registra síndrome respiratória aguda, a prefeitura não vai contabilizar a morte dele como Covid-19. Um exemplo claro da subnotificação de casos.

A média de enterros em Manaus era de 30 por dia. Em 8 de abril, houve um salto no número de morte, o dobro da média. No dia 19, a quantidade de sepultamentos foi quatro vezes maior do que antes da pandemia. Uma semana depois, o recorde: 142 mortes. Em três semanas, de 8 a 28 de abril, morreram 1.966 pessoas. Antes da pandemia, morriam, em média, 630 pessoas em três semanas. Ou seja, há um excedente de 1.336 mortes, mas apenas 151 foram atribuídas oficialmente à Covid-19. A subnotificação pode estar próxima de 1.185, e a maior parte das mortes foi registrada como síndrome respiratória, causa indeterminada, ou em casa.

O diretor da Fundação de Vigilância em Saúde, Cristiano Fernandes, reconhece que a subnotificação se deve à escassez de testes: “Nós estamos realizando cerca de 700 exames diariamente. Com o aumento do volume de casos, nós tivemos realmente um acúmulo de exames pendentes; e a estratégia que nós adotamos é ampliar nossa rede. Nós vamos ter capacidade aumentada em cerca de 30%, nós vamos chegar a mais de mil exames realizados hoje aqui no estado”.

O Amazonas registra oficialmente 4.801 casos e 380 mortes por Covid-19. O sistema de saúde do estado está à beira do colapso. Segundo o governo do Amazonas, a taxa de ocupação hoje é de 94% dos leitos de UTI. Os três hospitais de apoio e pronto-socorros, que também atendem pacientes com coronavírus, só recebem pacientes muito graves. O Delphina Aziz, hospital de referência, e o recém-inaugurado hospital de campanha estão trabalhando no limite.

Carlos disse que vai prestar a última homenagem ao pai depois que a pandemia passar: “Uma hora a gente vai poder fazer. Quando passar tudo isso, a gente vai pode fazer uma reunião com a família tudinho, vir aqui fazer uma oração no túmulo dele e vida que segue”, disse.

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