Metade das famílias vulneráveis em MG e em BH não retirou benefícios criados pelos governos durante pandemia

Metade das famílias em situação vulnerável que tem direito a receber cesta básica da prefeitura de Belo Horizonte durante o período da pandemia de Covid-19 retirou o benefício em supermercados credenciados no mês de abril. A adesão foi maior entre as famílias de crianças matriculadas nas escolas municipais: mais de 90% buscaram o auxílio no mesmo mês. Já no caso da bolsa merenda de R$ 50, oferecida pelo governo do estado a alunos da rede estadual em situação de extrema pobreza, o alcance também ficou no patamar de 50% do público alvo.

As medidas foram adotadas pelos governos municipal e estadual como auxílio emergencial às famílias em situação vulnerável, que perderam a renda durante a pandemia do novo coronavírus. Vale lembrar que a prefeitura de Belo Horizonte passou a disponibilizar, em maio, cestas básicas a motoristas de vans escolares, ônibus suplementares, carroceiros e, na semana passada, anunciou a distribuição a feirantes e mulheres em situação de violência doméstica.

No caso das famílias que vivem em vilas, favelas e ocupações de Belo Horizonte, as cestas básicas começaram a ser distribuídas no começo de abril. Catadores de materiais recicláveis e agricultores urbanos também podem receber o benefício. De acordo com a prefeitura de Belo Horizonte, a definição de quem tem direito foi realizada com base nos cadastros municipais já existentes.

Para saber onde e quando buscar as cestas básicas, as famílias precisam acessar o site da prefeitura e informar o número de CPF que está cadastrado em programas de assistência social do município.

Neste primeiro mês, das 220 mil cestas básicas destinadas a este grupo, apenas metade, 110 mil, foi retirada. A prefeitura não informou o motivo da baixa adesão, mas disse que para ampliar o alcance das informações sobre as cestas, as famílias também estão recebendo, nesta semana, um aviso da consulta por meio de mensagens pelo celular.

Ainda de acordo com a prefeitura, mais de 300 mil panfletos foram distribuídos por agentes da saúde em vilas e favelas, além de ter sido realizada busca ativa aos usuários de todos os serviços por meio das equipes de suporte que estão em teletrabalho, como Assistência Social, Habitação (Urbel), SLU, Segurança Alimentar e Cidadania.

Cesta básica para famílias de alunos matriculados em escolas municipais

Antes da distribuição de cestas básicas a famílias em vulnerabilidade social, a prefeitura de BH começou a fornecer o benefício a famílias de alunos matriculados em escolas da rede municipal ou em creches conveniadas no dia 31 de março. Das 142 mil cestas disponíveis, 130 mil famílias foram beneficiadas em abril. As outras 12 mil não fizeram o cadastro ou não buscaram no supermercado credenciado, segundo a prefeitura.

Uma das famílias que recebeu a cesta básica é a da dona de casa Daiane da Silva, de 28 anos, que tem dois filhos que estudam na rede municipal de BH, um de 10 e outro de 4 anos. A família vivia da renda proveniente dos “bicos” feitos pelo marido, Wagner Antonio da Silva, que está desempregado há dois anos.

Com a chegada do novo coronavírus, ele perdeu a fonte de renda e a família precisa do benefício para se alimentar. Mas, Daiana conta ter tido dificuldades no primeiro mês para retirada de uma das cestas.

“Quando entrei no site e coloquei o meu nome, aparecia tudo certo. Mas quando tentava concluir o processo, aparecia o CPF do meu marido. Fiquei tentando, tentando, porque o CPF não era o meu. Fui no supermercado com o meu marido. Eu com a minha identidade e ele com o CPF dele e só assim conseguimos retirar”, falou.

A partir de maio, segundo, Daiane, as informações pessoais já estavam corretas no site e o benefício pôde ser retirado sem problemas. Diferente dela, no entanto, muitos moradores da região onde mora, no Barreiro, não têm acesso à internet ou, nem mesmo têm documentos e, por isso, estariam enfrentando dificuldades para conseguir pegar as cestas básicas.

“Como aqui é uma comunidade, tem usuário de droga, né? Tem uns que já trabalharam, mas agora não trabalham mais. Então, eles é que pedem para olhar porque não têm internet. Eu mesmo olhei para duas pessoas que vivem nesta situação. Tem gente também que perdeu os documentos. Como a regional do barreiro está fechada, não tem como fazer documento novo pra tirar o auxílio”, falou.

Em nota, a prefeitura de Belo Horizonte informou que, embora a prioridade seja atendimento via internet, as pessoas que não tem acesso também podem pedir informações pelo 156.

Bolsa merenda do governo estadual

Bolsa-merenda do governo de Minas é de R$ 50. — Foto: G1 Minas

Bolsa-merenda do governo de Minas é de R$ 50. — Foto: G1 Minas

A bolsa merenda do governo de Minas Gerais, no valor de R$ 50, começou a ser distribuída no final de abril para famílias de estudantes da rede estadual que vivem em extrema pobreza, com renda mensal de até R$ 89 per capta. Participantes do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) também podem receber o benefício.

A previsão de duração inicial de distribuição do bolsa merenda é de quatro meses – de abril a julho. O prazo poderá ser estendido de acordo com o calendário das aulas.

Apesar de destinado para pessoas em situação de vulnerabilidade, para receber o benefício, as famílias devem ter acesso à internet. Primeiro, para consultar se estão aptas a receber e, depois, para baixar aplicativo PagBank PagSeguro – disponível no Google Play e App Store.

Até agora, das 380 mil pessoas aptas a receberem a bolsa merenda, aproximadamente metade teve acesso ao benefício. O governo de Minas não explicou o motivo da baixa adesão, mas disse que o número pequeno de cadastros não tem relação com dificuldade de acesso à internet.

Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, 89% dos acessos ao benefício vieram de smartphones e os maiores percentuais de repasse estão nas áreas mais pobres do estado.

A secretaria informou também que está fazendo busca ativa através do MgApp e de disparos de SMS para os telefones dos responsáveis no CadUnico e que, para quem não conseguir acessar o app, serão emitidos, sem custo, os cartões e enviados às casas dos cidadãos. No entanto, esta ação ainda não tem data confirmada para acontecer.

Ação doa cestas a quem ainda não teve acesso aos benefícios

Mano Bill e as cestas arrecadadas pelo Barreirão sem Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal

Mano Bill e as cestas arrecadadas pelo Barreirão sem Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal

A dificuldade para estas pessoas em situação ainda mais vulnerável de ter acesso aos benefícios motivou Anderson Fabrício dos Santos, o Mano Bill, a abraçar, junto com outros líderes comunitários, o programa Barreirão sem Covid-19.

A iniciativa, que começou em março e tem previsão de ir pelo menos até junho, doa cestas básicas para as famílias que moram em ocupações da região do Barreiro.

“Várias famílias não conseguiram retirar as cestas por causa de falta de documentação. Ou dificuldade de acesso à internet”, contou.

O Barreirão sem Covid-19 já doou mil cestas e começa a distribuir a segunda remessa a partir da próxima semana.

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