Pessoas sem sintomas infectam durante 8 dias, aponta estudo em Wuhan

Ao acompanhar 78 pessoas infectadas pelo novo coronavírus, um estudo chinês chegou à conclusão que uma pessoa sem sintomas é capaz de infectar outras, sem saber, por metade do tempo que uma pessoa doente. O grupo foi escolhido por todos terem se infectado após ter contato com uma mesma pessoa que foi hospitalizada.

As autoridades sanitárias identificaram 26 situações de exposição viral ligadas a esse paciente. Elas aconteceram dentro do setor de frutos do mar do mercado de animais silvestres de Wuhan, local onde o vírus foi detectado e a partir daí ganhou tração e se espalhou pelo mundo.

Os 78 pacientes nessas situações de exposição foram isolados e acompanhados durante 3 meses. Quase metade deles, 42%, não manifestou sintoma nenhum. O perfil mais comum era de mulheres e de jovens. Os pesquisadores Rongrong Yang, Xien Gui, Yong Xiong, ligados à universidade de Wuhan, do Hospital de Zhongnan e do Departamento Chinês de Doenças Infecciosas analisaram exames clínicos, tomografias e fizeram testes sucessivos de detecção de partículas do coronavírus nesses pacientes.

Eles descobriram que os assintomáticos permaneceram infectantes de 3 a 12 dias. Metade deles estava infectando por mais de 8 dias. Ou seja, poderiam contaminar muitas pessoas se não estivessem isolados. Já entre os pacientes com sintomas, a janela de infecção durou de 16 a 24 dias, sendo que pelo menos metade deles poderia espalhar o vírus por 19 dias. Os doentes espalham o vírus por pelo menos o dobro do tempo do que os assintomáticos. Os que ficaram doentes manifestaram os sintomas dentre 2 a 6 dias após serem expostos ao paciente original.

Mesmo sem apresentar sinal nenhum, os assintomáticos tiveram danos no sistema imunológico, no fígado e nos pulmões, mas esses danos foram mais suaves e eles se recuperaram mais rápido em relação aos que firam doentes de Covid-19. Os cientistas concluíram, no artigo, que a janela de infecção dos assintomáticos e o tempo de incubação dos que ficaram doentes são informações importantes para a definição de estratégias de combate à nova doença e referência para criação e protocolos de vigilância sanitária.
O estudo tem algumas limitações. Antes de serem isolados, todos os pacientes puderam ter contato entre si. Já os que ficaram doentes e precisaram ir ao hospital, ficaram na mesma área médica, ou seja, houve o risco de contaminação cruzada de suas cargas virais. Apesar das limitações, os pesquisadores concluem que a diferença de janela viral não pode ser ignorada, e deve ser levada em conta para definir políticas públicas. Para eles, pessoas que estiveram em situação de exposição ao vírus, ou contato com alguma pessoa que posteriormente testou positivo, devem ser detectadas, isoladas e monitoradas o quanto antes, para evitar a multiplicação da cadeia de transmissão.

 

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